Autônomo ou Empregado? O Dilema de um Advogado

Discussão em 'Artigos Jurídicos' iniciado por AP Advocacia, 11 de Agosto de 2017.

  1. AP Advocacia

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    De uns tempos pra cá estou recebendo a ligação de diversos amigos com quem trabalhei, sendo que a maioria está desempregada. Após os cumprimentos de praxe vão direito ao ponto e perguntam como estão meus negócios, se minha carteira de clientes está consolidada, se vale a pena ser autônomo e se posso dar algumas dicas.

    Percebo que estão receosos, além de descrentes, pois não têm perspectivas de serem recontratados imediatamente. Como tudo na vida estão cogitando partir para o plano “b”, o mesmo que coloquei em prática há alguns anos, após ser dispensado do meu último emprego.

    No entanto, como posso orientar corretamente alguém se não sou coaching e estou por fora dos requisitos que estão sendo exigidos pelos recrutadores?

    Tento de certa forma agir como um pai que orienta o filho, dando conselhos que provavelmente não serão seguidos. Na verdade conto a eles como passei de empregado a autônomo, fazendo questão de apontar as pedras existentes no caminho.

    Como minha única expertise é orientar as pessoas acerca dos que elas podem ou não fazer, mas sob o ponto de vista jurídico, tento expor o que ocorreu comigo, que me perdoem os jornalistas pelo jargão, expondo os fatos para que tirem as conclusões.

    Num primeiro momento digo que irão sobreviver. Para o leitor esta afirmação pode parecer banal, mas estar desempregado no Brasil, numa época de crise, é realmente motivo de preocupação.

    Exponho o que eles já sabem, que nunca fui autônomo, pois desde os meus catorze anos de idade atuei como empregado. De lá pra cá tive poucos empregos e a felicidade de tomar a iniciativa de sair de todos. Ocorre que, como dizem, sempre há a primeira vez e a minha chegou. Eu nunca havia sentido o gosto, amargo diga-se de passagem, de ser dispensado.

    Dando continuidade ao colóquio confidencio a eles que na época me senti mal, desvalorizado e incapaz, embora não tenha ficado desesperado, até por que as contas estavam em dia e afinal eu tinha recebido os valores decorrentes da rescisão.

    Demonstro a eles que o tempo foi passando e pude perceber que o muro a ser transposto estava bem mais alto. Se antes meu inglês intermediário quebrava o galho, agora pelo que sei estão exigindo, além da fluência, francês, mandarim, graduação numa faculdade de primeira linha, além de pós.

    Na época eu tinha apenas uma pós. A faculdade em que me formei, embora tradicional na região e existente há décadas, não era “de primeira linha” ao ver deles, ou seja, não me formei na USP, tampouco na PUC. O que fazer, deveria desistir? Como poderia demonstrar que poderia concorrer de igual para igual com qualquer um? Os meus cursos de extensão não mais valiam? E a minha experiência?

    Enfim, continuei buscando recolocação e obtive êxito em alguns processos seletivos, mas os salários oferecidos estavam tão defasados que resolvi ficar um pouco mais em casa, tentando a sorte.

    Ocorre que com o passar do tempo, casa para sustentar e filhos, não podia mais me dar ao luxo de ficar esperando uma ligação. Sendo assim voltei a unir o útil ao agradável, ou seja, voltei a fazer o que gosto, advogar.

    No entanto, alguns serviços foram realizados apenas para que eu pudesse obter remuneração, pois meu objetivo ainda era arrumar um bom emprego.

    Quando atingi o oitavo mês a contar da dispensa comecei a ficar realmente preocupado. Os convites para as entrevistas diminuíram sensivelmente; algumas das propostas eram aviltantes. A partir desse momento comecei a pensar em ser autônomo, em abrir meu próprio escritório, como de fato abri.

    Hoje digo a meus amigos que continuo feliz e estou realizado na profissão. Trabalho bem mais que antes, mas ainda recebo menos. Meu horário é flexível, mas minha jornada é maior. Preocupações antes inexistentes, como a administração do escritório, pagamento de aluguel e até com economia de materiais se tornaram realidade.

    Contudo hoje posso afirmar que vale a pena ser autônomo, embora pelo menos para mim as preocupações sejam maiores. Se antes eu analisava, redigia e opinava acerca de contratos envolvendo grandes quantias, hoje lido com patrimônios menores, mas não menos importantes para meus clientes. Dá gosto vê-los satisfeitos após a entrega de um serviço bem feito.

    Tenho pra mim, e tentando responder à pergunta que inseri no título, que atualmente prefiro ser autônomo, mas digo isto não por despeito por não ter arrumado o emprego que queria, mas também e simplesmente por estar tendo a oportunidade de ver o mundo sob outro enfoque.

    Ademais, ao menos por enquanto continuarei tentando vencer, se me permitem o trocadilho, autonomamente, pois como dizem, “a perseverança é a virtude pela qual todas as outras dão fruto”.

    Espero de coração ter conseguido ajudar meus amigos neste momento de dificuldades.

    Advocacia André Pereira
  2. Milton Levy de Souza

    Milton Levy de Souza Membro Pleno

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    Dr. André Pereira;

    Nada a dizer....

    APENAS E TÃO SOMENTE....

    BOA SORTE (SEMPRE...SEMPRE....E SEMPRE)!!!
  3. AP Advocacia

    AP Advocacia Membro Pleno

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    Obrigado Dr. Acompanho seus posts no site e os recomendo. Admiro sua competência, mas acima disso a vontade em ajudar os colegas.
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